José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Tenho três flores lá em casa,
todas são margaridas
- nenhuma rosa -, 
estão dispostas ao meu olhar
e ao meu toque de manso e
de leve pranto.

 

Elas - já sem pêndulos - viveram
em paz meio caótica com meu gesto:
afinal pra que três,
se uma não basta?

 

E disso sempre feneceram.

 

Um dia elas acordaram, de manso,
e se viram no meu espelho
envergonhadas:
- pra que três?

- uma não basta?

 

E assim fiquei sozinho,
ou metade em dor, metade
arrependimento.

 

E jurei pra mim: pra que três?


E digo eu, sem impedimento:
uma completa a outra, a primeira
refaz a segunda, esta suplanta
a terceira. Cada uma é,
cada uma não é.

 

Mas é difícil

para os donos

de alvenaria

compreender isso.

 

Mesmo que não tenha 

qualquer explicação.

 

Hoje sozinho, jurei aos deuses
mais próximos:
da próxima fez, reeducado,
não ponho um espelho sequer
na casa.

 

Os espelhos são verdadeiros:
mas não mostram surpresas
e sim realidades.

 

Nessa entrei, bem herdeiro,
igual a um rato na ratoeira.

 

Parece simples, mas
não é: vá dirigir um
bonde chamado de três
madonas
e você vai ver o tamanho
do abismo que te jogam:
cada pedaço de você por vez!

 
 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 27/08/2022
Alterado em 27/08/2022


Comentários

Tela de Claude Monet
Site do Escritor criado por Recanto das Letras