Feltros sem cor definida
se espargem e cobrem
o caminho de pedras,
ao vagar do vento doce
de primavera,
suavizado pelo sol ameno,
que rebate colorido
o vôo dos pássaros.
Nada mais pode
nos separar,
nem os frutos amargos
da vida,
nem as brumas de
inverno, que se acotovelam
ao sopé da montanha,
que a guarda inocente,
sem saber que ela, mais atiça,
inicia o caos, quando
começar o seu vago.
E já são tão populares as perdas,
que se disseminam em cada um
de nós,
já é tão popular a ferida
que se abre ao breve adeus,
sem palavras, sem sentido.
Lápides silenciosas guardam lá
seus segredos,
ruminam ansiedades de vida,
mas a alcova eterna as prende,
num céu convulso,
onde a metade é luz e outra
é ouro.
E nesse caminho,
sigo eu:
de chinelas de palha
procurando atravessar
toda esta relva,
que, para mim , é meu início,
feito e bordejado no céu,
pra nunca mais acabar.
Sou fruto da corda
e do coldre,
faço de criança meus
bonecos sem nome;
sou fruto de feltro
e do feiticeiro azulado,
e me apaziguam somente
as idéias de que não estou
mais aqui.
Vez virá, em monções de segundos,
que serei parte dos erguidos,
dos assolados, e também dos
perdoados.
Se a mim me sobra,
restas de sombra,
alguma mão
me prende,
nesta queda sem nome,
neste dia em vão,
nesta vida sem início
onde
ainda sou a corda e o coldre.
(Poema dedicado à Ticiana )