José Kappel

Um amor sobrevive a outro amor

Textos


Sou início e fim, meio das coisas, achado de luzes, perdido em lampejos.

 

Se sou, sou parte.

 

Se tenho a posse, sou dono; se me falta é porque não ganho, por mera canção dúbia, se tenho é porque me sobra, por avareza dos sem véus.

 

De sombras, permeio igualdades, e se não me faço rei de povo nenhum, porque não tenho terras de plantar.

 

 Semeio a discórdia entre os claros e escuros.

 

Sou a borda e o vôo. Tenho rainhas fogosas e pajéns de cama.

 

Sou a guarda e o pão.

 

Guerreiros imponho à minha porta e venço os inimigos apenas quando sonho que sou príncipe de galenas nos mares desfeitos na areia.

 

Sou assim. Sempre de guarda, sempre afoito, modelado em medo. Esperando a sombra dela para fazer a minha.

 

Espero os lábios delas para tentar ser feliz. mas qual! Felicidade eu só compro. Vou às esquinas sem vida e na balança da vida, faço a prosa e o som.

 

Não tenho nexo, e por isso, sou o início e o fim, sou o início do nada, da espera e da tristeza. 

 

Sou a praga dos bem-vindos. Sou o apanágio dos anuais.

 

Sou isso, sou aquilo, rezo por Zeus - deus dos aflitos, onde não há fim, pouco de princípio,  e quando não existe igualdade, me vendo por  seis moedas e duas tristezas !

 

E  potes de ouro, acho-os às esquinas.

Mas são de tolos a redentores.

 

São centavos que ralam à baia do vestido e se leva à algum lugar, leva a lugar roseado.  

 

Vivo raso, onde brota o riso fácil, do espoucar de gargantas secas pelo mel de álcool que corrompe a compreensão e faz a derrota  com restolho do pensamento e do medo, com amêndoas e tâmaras

 

Vou e não vou. Pago e retrocesso.

 

Ganho e perco. Mas choro porque acabei de encontrar a vida naquela alegria apavonada.

 

Sou o delírio do fim, no fugaz calor de mãos raladas de vazios.

 

E cada um tem seu precipício.

 

E cada um roda por ele a todo momento, como se fosse uma cruz a carregar.

 

E cada precipício tem um nome, doce ou não.

 

Mas seu nome doloroso é de morte.

 

Mas no fim, poeto por vagar. Danço para conquistar. Proseio de solidão, sou espelho sem reflexo,

onde tudo vaga solidão.

 

Sou a eterna espera, o fim das coisas.

 

E o início dos confins

onde brada o fogo

e morrem  no jogo

de quem sobrevive.

 

Morro sem esperança

das faces rosadas

do meu rosário de

falso amor !

 

Mas, no ocasional,

sou homem de ontem,

que morre por amapoulas,vestido de cimento,

rodeado por flores sem fim.

 

(Poesia dedicada àa Ticiana )

 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 14/12/2022
Alterado em 16/12/2022


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