Morreu o Pobre da Vez na Festa do Poeta de Palha
e foi assim,
se não foi, foi parecido. foi, porque, se disser, pouca nela vão acreditar, nem mesmo a falecida memória. teve roda-de samba, laranja-da-terra, pó-de-arroz, enfeite de mulher, tranças perfumadas, e amor às pampas, na rampa dos desenganados. teve estrela que desceu do céu, e foi dormir com a criança de véu. teve lá fora, teve lá dentro, pois os que viram viram, os que não, se tornaram tornado ou vento. foi o dia dos afins, com banda de música, chocolate e pão de roça, tudo sem fim. teve mulher que largou homem, e foi pro escorrega de criança, ver a vida passar, mas pobre donzela, que morreu entre as luzes de panelas ! era gente e mais gente, e no meio de tudo, não havia um pingo de gente. tudo só, silencio de bastar, falar era pouco, pois comiam doce de fartar. a história aqui termina. termina com a festa que não teve, com amores apagados e políticos que mal morreram, com a vida alagada, de vossa excelência. e aqui termina onde nem começou, se você entendeu fez bem: é bom até prá falar em todas as esquinas. agora, bate uma porta, e fecha outra, pois a vida é de arder ! pego meu boné de palha e já vou, lá longe me espera: seu mané da cachaça e a mulher de traços, mas sem asas prá voar, só vestida de cascalho e sem vida prá retornar ! e você fecha as portas que eu cuido das janelas, conta outra mentirinha, que eu vou viver é na casa dos velhinhos ! e a página ficou sem dono, porque as letras dela sumiram, e o poeta morreu de pobre, feito flor ao léu. * 2 de abril de 2008 Fim.
José Kappel
Enviado por José Kappel em 02/04/2008
Alterado em 02/04/2008 |